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O Braço do Senhor

por T. Austin-Sparks

Capítulo 5 - Construindo sobre o Alicerce de Deus

Vimos que, com o capítulo 54 das profecias de Isaías, começa um movimento de Deus em direção à restauração e edificação. A Cruz abriu caminho para esta nova perspectiva. Do capítulo 54 em diante, uma série de notas brilhantes e cheias de esperança são tocadas. Por exemplo, no início do capítulo 60:

”Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do SENHOR nasce sobre ti.”

Tendo o caminho sido aberto, o terreno limpo e o fundamento lançado pela Cruz, o Senhor está atuando na questão da restauração, e edificação do Seu povo. Há uma nova perspectiva, esperança e mensagem de encorajamento. Mas, com isso, uma nova nota é atingida. Nestes últimos capítulos de Isaías, vemos luzes e sombras nesta nova perspectiva. O sol brilha: “vem a tua luz... a glória do Senhor nasce” - é como o sol nascendo num dia de início de verão; e então é como se uma nuvem pesada cobrisse a face do sol. Pode ser apenas passageiro, temporário, mas você se pergunta se toda a perspectiva irá mudar; se o tempo brilhante está passando, se esse é o fim.

É exatamente assim nós próximos capítulos de Isaías. O sol - a glória do Senhor - nasce; há uma perspectiva brilhante; mas então, aqui e ali, você encontra coisas mais sombrias, como o capítulo 58, começando:

“Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão…”

De vez em quando aparecem estas nuvens escuras, que parecem passar por cima da face do sol, mesmo na presença desta nova perspectiva; e trazem ao coração um sentimento de incerteza. Esta 'manhã radiante' está se dissipando cedo demais? Estamos conscientes de sentimentos contraditórios: ainda não nos sentimos seguros de que tudo irá prosseguir nesta nova perspectiva, e vai se desenrolar de acordo com a promessa que vislumbramos.

Do lado do Senhor, é claro, não há dúvida: o Senhor tem para Seu novo terreno e Ele se revela como Alguém que pretende ser positivo. Ele não tem duas mentes, nEle não há mudança nem sombra de variação. Tudo do lado do Senhor mostra que Ele é Alguém que está em busca de alguma coisa - um novo dia, uma nova situação. Sim: o Senhor é positivo.

Uma verificação do braço do Senhor

Mas parece que o Senhor precisa agir com cautela. Ele deseja agir imediatamente, sem reservas, mas... mas... parece haver algo que ainda está segurando Seu Braço; Ele não pode seguir adiante, como Ele indica que faria. O antigo terreno sofreu uma purificação ardente na Cruz; todo aquele restolho, emaranhado e rede de espinhos e sarças foram eliminado pelo fogo. Ele obteve Seu fundamento: mas... parece ainda haver uma dúvida. Não lemos esses capítulos sem sentir: 'Ainda não chegamos a uma conclusão; não estamos do outro lado; ainda não temos certeza de como isso vai se desenrolar’. O Senhor transmite certeza; Ele encoraja dizendo que, no que diz respeito a Ele, não é necessário afastamento; mas Ele está encontrando um impedimento.

Deixe-me colocar assim. O terreno foi limpo e os alicerces foram lançados; mas agora surge a pergunta: O que será construído sobre esse alicerce? E é justamente aí que entra a incerteza, não quanto ao fundamento, pois isso foi estabelecido na Cruz - mas quanto à superestrutura: o que será posto sobre o fundamento? O Senhor não tem certeza do que Seu povo colocará sobre o Seu alicerce.

No que diz respeito ao Antigo Testamento, a resposta mais imediata à questão da nova construção nesse novo terreno é encontrada no que chamamos de profetas pós-exílicos, os profetas de depois do Exílio – Zacarias, Ageu e Malaquias. Vemos nesses livros “que tipo de edificação” o povo fez sobre o novo alicerce. Mas se você levantar novamente a objeção de que isso é o “Antigo Testamento”, deixe-me lembrá-lo que mencionei no capítulo anterior que a contrapartida disso pode ser encontrada no Novo Testamento, em nossa própria dispensação. Vimos que Isaías 53 encontra seu paralelo na carta aos Romanos, onde a Cruz encontra todo o lixo, o mal e o emaranhado, lidando com isso por intermédio de um julgamento ardente e limpa o terreno para uma nova perspectiva. Essa nova perspectiva é apresentada no capítulo 8 de Romanos. Deus agora tem Seu fundamento. Mas qual é a contrapartida dos próximos capítulos de Isaías?

A edificação correta e a edificação errada ilustradas em 1 Coríntios

A contrapartida – tão evidente quanto podemos ver – está na primeira carta de Paulo aos Coríntios. Escrevendo sobre a sua primeira chegada a Corinto, o Apóstolo disse: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco… decidi” — a linguagem é: 'Deliberadamente decidi' "nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (1Co 2:1,2). O alicerce foi lançado: “lancei o fundamento como prudente construtor” (3:10), e o alicerce é Cristo crucificado. A Cruz, como Paulo tão claramente expõe na sua carta aos Romanos, proveu o fundamento; e esse fundamento foi lançado em Corinto. Mas continuando a leitura do verso, o coração quase para. Paulo afirma: “lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele”. Ele mostra que é possível construir sobre ele, seja “madeira, feno, palha”, ou “ouro, prata, pedras preciosas”; e que o trabalho de cada homem será testado pelo fogo, para descobrir sua natureza. Se a obra de alguém for queimada – o que acontece? Bem, “esse mesmo será salvo” – ele simplesmente entrará – “mas como que através do fogo”; ele terá perdido tudo.

Então surge esta grande questão: O que você vai estabelecer sobre a base, o fundamento da Cruz? Você vai trazer de volta coisas que são absolutamente contraditórias com a Cruz? Se sim, você vê o que acontece.

Nesta primeira carta aos Coríntios temos muita coisa sobre construção. Talvez seja um pouco lamentável que, em diversas passagens do Novo Testamento, e consistentemente ao longo das cartas aos Coríntios, as palavras originais para “construir” e “construção” tenham sido traduzidas por “edificar” e “edificação” - embora a Versão Revisada geralmente use a palavra 'construir' ou 'construir sobre’ na margem, e o verbo composto, 'construir sobre', é geralmente - por exemplo, em 1 Coríntios 3:10-15 - traduzido conforme mencionei. Mas durante os 300 anos desde que nossa Versão Autorizada foi feita, palavra “edificar” perdeu um pouco de sua força, e o uso atual pode tender a nos dar a idéia de adquirir conhecimento intelectual, o que, obviamente, não é absolutamente a ideia de Paulo. A raiz da palavra persiste, e Paulo está o tempo todo se referindo a uma construção espiritual – a construção do verdadeiro caráter espiritual.

Sugiro que você siga as nove ocasiões nesta primeira carta onde as palavras “edificar” ou “edificação” são usadas. Toda a questão dos dons espirituais, por exemplo, é resumida nesta única palavra: eles edificam? Se não o fizerem, não terão valor no propósito de Deus; eles podem ser descartados; não atingiram o objetivo - pois até mesmo os dons Divinos podem perder o foco se desviarem; teremos que tocar nisso novamente. É o lado espiritualmente construtivo das coisas que recebe tanta ênfase nesta primeira carta aos Coríntios. O fundamento – Cristo crucificado – está lançado. Agora vamos à construção!

O que Deus não permitirá sobre o seu fundamento

Quando chegamos à construção, uma verdadeira batalha tem início. A questão é: O que Deus permitirá que seja colocado sobre seu Seu fundamento? Pois através desta carta encontramos uma longa série de 'Não’s - coisas às quais Deus diz: 'Não, não é isso que vai ser posto sobre o Meu fundamento, por favor; Não tenho lugar para isso. Você pode passar a vida inteira com isso, mas tudo virará fumaça. Não é adequado ao Meu fundamento; não está de acordo com a Cruz do Senhor Jesus.'

Agora, demoraria muito tempo para considerar todas as coisas nesta carta às quais Deus diz: 'Não'. Iremos apenas abordar dois ou três, como representativos dos demais. Ao lermos a carta, com isto em mente: Deus permitirá que algo assim seja colocado em Seu fundamento? - e ao vermos a resposta, certamente a nossa reação deve ser: Muito bem, deixemos a Cruz lidar com isso imediatamente. Não queremos que isso seja adiado até que seja tarde demais, e simplesmente subamos para o Céu, sem nada que possamos levar conosco do trabalho de uma vida - pois essa é a questão. Não queremos adiar ou recusar a operação da Cruz até que seja tarde demais para salvar a obra de nossa vida, para salvar o fruto de todas as nossas energias.

(1) Carnalidade

Começamos com o capítulo 3: “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais: PORQUANTO” - esta é a descrição da carnalidade - "Porquanto, havendo entre vós CIÚMES ..." Vamos pesar essa afirmação do apóstolo, mesmo que seja para o nosso próprio julgamento e condenação; pois é melhor que a Cruz entre em ação agora mesmo. 'Há ciúme entre vocês'? Deus diz 'Não' a isso: 'Não posso ter isso em Meu fundamento. Meu alicerce é a Cruz, e ela diz Não a isso.'

Paulo continua: “Havendo entre vós ciúmes e contendas...” Contendas! Devemos pensar bem sobre isso e enfrentá-lo honestamente. Pode parecer muito elementar, mas não estamos enfrentando o mundo, os não convertidos, aqui; estamos bem no meio da Igreja, entre os crentes. Estamos lidando com aqueles entre os quais o fundamento de Deus foi lançado; com aqueles que são “chamados para serem santos” (1Co 1:2); isto é, aqueles que são considerados por Deus como Seu próprio povo. Conflito? Deus diz 'Não' a isso em Seu fundamento. Isso é encontrado entre nós? Você sabe o que vai acontecer? Mais cedo ou mais tarde, ficará exposto como madeira, feno e restolho - esse é o seu valor - e virará fumaça.

“Não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?" Você não tem permissão para andar segundo a maneira dos homens no fundamento de Deus - simplesmente não tem permissão. Deus diz 'Não' à "maneira dos homens" em Seu fundamento. “Quando, pois, alguém diz: eu sou de... e outro, eu sou de...” Aqui devemos nós mesmos preencher os nomes apropriados: nomes que atualizados; nomes do nosso círculo, assembleia; do mundo cristão, ou religiosos históricos. 'Um diz, eu sou de... e outro, eu sou de...; e ainda outro, eu sou de...' Todos eles expressam parcialidades e preferências humanas, gostos e desgostos que produzem divisões. Deus diz: 'Não, não no Meu fundamento; essa não é a Minha Igreja, nem o Meu edifício. Eu nunca construo com material assim, e você também não. Você pode ter um cenário maravilhoso – criado por você – com coisas desse tipo: mas tudo vai virar fumaça. Por mais que você pareça ter alguma coisa, no final não terá nada.'

(2) Sabedoria Mundana

Quanta coisa nesta seção inicial sobre “a sabedoria do mundo” (1:20) – a sabedoria do homem, a mente do homem sobre as coisas. Deus diz: 'Nada disso no Meu fundamento; não há lugar algum para a sua mente no Meu fundamento, só há lugar para a mente do Espírito'. Se não tivermos a mente do Espírito, não temos o direito de fazer nada com base em Deus. Não são estes os mesmos problemas que estão destruindo o Cristianismo nos nossos dias? Sim! E não pensemos no Cristianismo de uma forma imparcial e objetiva. Isso está muito ligado a nós. Estas mesmas coisas podem causar danos, mesmo entre nós: podemos estar trazendo uma mentalidade que não é do Espírito para o fundamento de Deus. É isso que significa: uma mentalidade. “Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (2:11). Temos duas mentalidades diferentes – a mente natural e a mente espiritual. Deus diz: 'Nada da mente ou mentalidade natural no Meu fundamento.'

Paulo isso aqui chamade “mundo” entrando e construindo algo sobre o fundamento de Deus; e Deus diz: 'Não há lugar para o mundo sob nenhuma forma no Meu fundamento.' Se olharmos atentamente, descobriremos que isto refela muito: os padrões, julgamentos ou valores do mundo - como o mundo pensa, como o mundo faz as coisas. Esses coríntios tentavam impressionar e, sobretudo, por meios naturais. A Cruz de Isaías 53 não é muito “impressionante”, julgada pelos padrões mundanos, não é? Não há nada nela que possa popularizar o Evangelho – pelo contrário, causa ofensa.

(3) Apelo Anímico

Você está tentando tornar a obra de Deus bem-sucedida apelando ao homem natural? Não defendo a feiúra ou a grosseria; acredito que Deus é um Deus de beleza. Mas se pensamos que vamos tornar a obra de Deus bem-sucedida ou aceitável através da exibição e do apelo à alma do homem – artística, esteticamente, e assim por diante – estamos no caminho errado. Deixe-me dizer de outra forma: a fonte de qualquer “apelo”, “impressão”, “captura”, e “arrebatamento”, deve residir essencialmente e apenas em valores espirituais, que são interiores, e não naquilo que cativa ou gratifica os sentidos naturais das pessoas. O Braço do Senhor não será revelado ao 'homem natural' ou ao 'mundo' de forma alguma para o seu benefício; apenas contra essas coisas.

À medida que avançamos nesta carta, descobrimos que a Cruz toca muitas outras coisas. Toca os nossos sentimentos – as nossas emoções e paixões naturais, há muito sobre isso aqui. E, tal como acontece com a nossa mentalidade, também ocorre com as nossas emoções, o Senhor diz: 'Nada disso no Meu fundamento, absolutamente nada.' Há tantas coisas aqui às quais a Cruz diz “não”, quanto à edificação. Convido você a olhar mais de perto; não é meu propósito fazer uma exposição da carta aos Coríntios. Quero tomar o lado positivo.

Temos um lado positivo nesta carta. O que é que Deus diz que pode ser colocado em Seu fundamento? Seria muito patético, não seria, se a carta fosse toda negativa, toda: Não, não! Jamais! Tome nota disso, porque você deve se lembrar que eu disse anteriormente que você nunca poderá chegar ao “Sim” de Deus até que tenha aceitado o “Não” de Deus. Mas existe um “Sim” muito poderoso nesta carta. O que é? Talvez pensemos que já o conhecemos. Bem, talvez conheçamos a letra; mas sugiro que não sabemos praticamente nada de uma delas.

Dons espirituais mal aplicados

Vejamos, então, o capítulo 13. Aqui o apóstolo descarta tudo o que não é espiritualmente construtivo. Pode ter sido algo dado por Deus, mas foi possuído pelo homem e usado para sua própria satisfação, gratificação, prazer e auto-glorificação. A mentalidade e a emoção do homem natural foram aplicadas às coisas divinas - dons espirituais, como línguas, e assim por diante - e roubaram-lhes o seu valor para edificação, tornando-as apenas ocasiões para exibição. Ele tem se gloriado nesses dons espirituais. O apóstolo aqui escreve tudo isso e diz que eles nunca foram dados com esse propósito; embora tenham sido concedidos por Deus, eles equivalem a “nada” – essa é a palavra que ele usa aqui – quando se trata de edificar. "Se eu... não tiver amor, nada serei.” Paulo descarta essas coisas; mas observe que ele está o tempo todo buscando o positivo através do negativo.

”Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine”. [13:1] Foram liberados dons espirituais que não cumpriram seu propósito na edificação da Casa de Deus. Não nos apeguemos a nada que não sirva a esse propósito.

“Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes...” Isso é muito bíblico – foi isso que o Senhor Jesus disse: “se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará” (Mt 17:20). Isso é perfeitamente bíblico; e ainda assim você pode ser perfeitamente bíblico e ter uma fé como essas, e isso pode não representar nada. Se falhar na edificação da Casa de Deus, se não resultar nesta estrutura bíblica, torna-se negativo. Abandone todo conhecimento de mistérios, sabedoria secreta e fé que remove montanhas. ‘Você vai pra fora se não edificar! Esse é o seu valor: nada!' “Se eu tiver toda fé... mas não tiver amor, nada serei”. Com tudo isso, não sou nada!

“E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado...” Se eu for um filantropo, e for muito caridoso, até mesmo me sacrificar, em minhas doações; mesmo que eu seja um mártir e entregue meu corpo para ser queimado; tudo isso pode ser feito sem qualquer valor construtivo na edificação da Casa de Deus. Se eu fizer todas essas coisas, “mas não tiver amor, nada disso me aproveitará”.

Isso, então, é a exibição exterior dessas coisas – coisas maravilhosas em si mesmas – mas que falharam em servir o propósito para o qual foram concedidas, a saber, para “edificação espiritual”.

O que Deus permitirá em seu alicerce: amor

Agora, vamos seguir para o positivo. Introduzamos aquilo a que Deus diz: Sim! Ele diz 'Não' a isso, e a isso, e a isso; mas agora, onde está o Seu 'Sim'? Aqui está - amor!

“O amor tudo sofre...” Houve alguns que, porque seus direitos foram feridos ou privados deles, arrastaram seus irmãos imediatamente diante dos magistrados. “O amor é paciente, é benigno...” Você pode colocar isso no alicerce; é algo construtivo, não é? “O amor não arde em ciúmes...” Quando você trabalha silenciosamente, assim, dentro e através de cada parte, você não sente desejo de parar e dizer: 'Não diga mais nada - isso me confronta demais'? Mas devemos prosseguir, pois, afinal, é isso que Deus está pedindo.

“O amor não se ufana, não se ensoberbece...” Volte ao início do capítulo 8 e você lerá isto: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica” [8:1]. Há uma grande diferença entre “ensoberbecer”, ou inchar [palavra usada na versão utilizada pelo autor] e “construir”. 'O amor não é arrogante': não há nada de falso, artificial, de faz-de-conta, de fingimento, no amor. As coisas falsas são como um balão de borracha: você pode enchê-las bastante, mas basta colocar tocar a ponta de uma agulha nelas e o que acontece? Já se foi. Paulo diz que não adianta colocar isso no fundamento de Deus.

”O amor... não se conduz inconvenientemente...” Comportamento impróprio: poderíamos gastar muito tempo nisso, não é? Isso é apropriado? isso convém a um cristão? isso convém ao Senhor Jesus? Cabe na santa Casa de Deus? é apropriado à Cruz do Senhor Jesus? O amor é apropriado; não se comporta de maneira imprópria. “O amor... não procura os seus interesses” – não quer as coisas do seu jeito, não trabalha para seus próprios fins; não atrai para si; ”não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba…”

Você pode pensar que não estou dizendo muito, mas estou falando muita coisa. Gostaria de lhes dar essa passagem numa tradução que considero um clássico:

”Posso falar as línguas dos homens e dos anjos, mas se não tiver amor, serei um gongo barulhento ou um címbalo que retine; posso profetizar, sondar todos os mistérios e conhecimentos secretos, posso ter uma fé tão absoluta que posso mover colinas de seu lugar, mas se não tiver amor, não terei valor algum; posso distribuir tudo o que possuo em caridade, posso entregar meu corpo para ser queimado, mas se não tiver amor, não ganho nada com isso. O amor é muito paciente, muito gentil. O amor não conhece o ciúme; o amor não faz ostentação, não se mostra arrogante, nunca é rude, nunca é egoísta, nunca se irrita, nunca fica ressentido; o amor nunca fica feliz quando os outros erram, o amor se alegra com a bondade, é sempre lento para expor, sempre ansioso para acreditar no melhor, sempre esperançoso, sempre paciente. O amor nunca desaparece.”

Você pode colocar isso no fundamento, pois Deus diz sim a tudo isso. A quem foi revelado o Braço do Senhor? Para isso; só para isso.

Há uma necessidade muito premente de que enfrentemos esta questão do que a Cruz deixa de lado e do que a Cruz traz consigo; o que pode ser colocado no fundamento de Deus e o que não pode. Preocupa-nos muito seriamente com o que restará no final: não com o que existe agora, por mais vistoso e popular que pareça, e por mais que desfrute da aprovação e do aplauso do homem. Deus está se movendo para construir: Ele mostra o que não pode e não quer usar em Sua construção, e então diz: ‘Isto é o que usarei; este é o material para a construção da Minha Igreja. Isto é o que realmente constrói: “O amor  edifica”.

Que o Senhor golpeie nossos corações, se necessário, para nos esclarecer sobre quais são os verdadeiros valores. Nem mesmo os dons espirituais são os valores reais, a menos que o efeito deles seja um verdadeiro aumento espiritual entre os crentes. Esse é o teste. Não são as coisas em si, nem a sua presença, nem mesmo o fato de o Senhor as ter dado. O teste de cada dom é: Será que ele realmente edifica a Igreja? isso realmente constrói a Casa? está realmente resultando em uma medida maior de Cristo?

Pois essas coisas podem ser uma obstrução para Cristo. Esta carta aos Coríntios deixa bem claro que a posse de dons espirituais não é garantia de maturidade espiritual. Aqui você tem a mais imatura das igrejas - Paulo diz: ‘Leite vos dei a beber; e vocês ainda são bebês - apesar de caracterizados por todos esses dons. Não é que os dons estejam errados, mas que foram desviados; eles não serviram ao propósito para o qual foram concedidos – isto é, levar à plena medida de Cristo. Esse é o objetivo, e esse objetivo só é alcançado pelo amor.

Que o Senhor nos dê esse tipo de amor! Isto não é amor natural; este amor brota da Cruz. É o amor que surge da obra da Cruz dentro de nós. Não podemos consegui-lo lutando por isso; mas, à medida que a Cruz realiza a sua obra nos nossos corações e nas nossas naturezas, ela surgirá e crescerá. O Senhor aumente o nosso amor!

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.