por
T. Austin-Sparks
Primeiramente publicado na revista "A Witness and A Testimony", em Mar-Abr 1935, Vol. 13-2. Origem: "The Transcendent Value of the Knowledge of Christ". (Traduzido por Marcos Betancort Bolanos)
“Tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus” (Filipenses 3:8)
“Para mim o viver é Cristo...” (Filipenses 1:21).
“A excelência do conhecimento de Cristo Jesus...” Claramente isso significa que o conhecimento de Cristo no caso do Apóstolo Paulo bem transcendeu todos os outros conhecimentos. Para ele era um conhecimento que ultrapassava em seu valor, todos os outros conhecimentos que ele tinha tido, ou concebido ele mesmo capaz de ter. ele coloca o conhecimento de Cristo Jesus, seu Senhor, contra todas as outras coisas, e assim como a luz de velas empalidece quando o sol brilha, deste modo para ele a mais poderosa luz e glória que o homem é capaz de experimentar se desvaneceu na presença de Cristo Jesus, seu Senhor.
Essas palavras não eram apenas palavras no caso de Paulo. Isto não era um floreio de fina linguagem. Vindo de um homem como ele era, elas carregavam um peso tremendo, não por causa de quem ele era, mas por causa da vida na qual as palavras brotaram.
Para realmente obter algo do poder e da força – da profundidade, da plenitude, da maravilha desta frase, desta linguagem – é necessário tornar a contemplar a vida deste homem e ver o pano de fundo de suas palavras. Palavras são de valor em proporção à realidade da história de um homem – a história que jaz trás suas palavras e se relaciona às suas palavras. Nós podemos dizer coisas, porém essas coisas podem ser sem valor, porque não há nada trás elas em nós mesmos. Ou podemos dizer coisas, e essas coisas podem carregar com elas um peso tremendo de significado e valor, por causa do que jaz trás elas na pessoa que as fala. Devemos lembrar, então, que quando Paulo disse essas palavras, ele estava praticamente no fim do seu curso terrenal... e que uma vida inteira cheia com história espiritual jazia trás cada sílaba. Mas que vida! Tudo culminou e foi reunido nestas declarações finais.
Olhe a ele pessoalmente. Aqui está um homem, desgastado e debilitado, sobre quem tem quebrado... e sobre quem tem passado ondas – ondas potentes e continuas de todo tipo de sofrimento que você poderia pensar se você se assenta-se para catalogar os sofrimentos do homem: uma vítima de perjúrio grosso, uma presa de muitas inimizades em disputa; uma estrutura física quebrada e debilitada; em circunstâncias de aflição profunda; contrariado por centos, possivelmente milhares, de oponentes; tendo pouquíssimos amigos de verdade agora restando.
Ele deixou registrado algumas das suas experiências de adversidade. Elas chegaram assim: em aflições, em necessidades, em tumultos, em trabalhos, em vigílias, em jejuns; repreendido, pesaroso, pobre, nada tendo; em prisões, em açoites acima da medida, em perigo de mortes muitas vezes; “recebi cinco quarentenas de açoites menos um”. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, um dia e uma noite passei no abismo; em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas” (2 Corintios 11:24-28).
Existem muitas outras comoções quanto à experiência deste homem de Deus. Ele se refere ligeiramente a elas e passa para: “Eu que sou rude na palavra” (isso é o que alguns tinham dito acerca dele): “E a palavra desprezível” (novamente, o que alguns tinham dito acerca dele). O homem de sim e não – isto é, o homem que vacila, que em um momento diz sim e em outro momento não. Enviando pedidos para um companheiro de trabalho amado, ele diz: “traze a capa que deixei em Trôade”... claramente mostrando que ele estava familiarizando-se com a frieza.
Se você olhar dentre seus escritos e na sua história, você acumulará uma tremenda quantia que aponta para sua história de sofrimento, de provação, de adversidade. No fim ele diz: “todos os que estão na Ásia se apartaram de mim”; “Somente Lucas está comigo”.
Depois vemos do que ele tinha desistido para isso; vemos aquilo que é a troca desde o lado humano. Ele nos diz quais eram suas vantagens naturais – como ele tinha uma razão e ocasião para se gloriar mais do que qualquer outro.
“E bem que eu poderia até confiar na carne. Se algum outro julga poder confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia (Ex., ele nasceu Judeu; ele não era um prosélito), da linhagem de Israel (não enxertado mas da linhagem original), da tribo de Benjamin (depois do nome da tribo, o próximo nome mais distinguido é o de Saul, o primeiro rei, quem era da tribo de Benjamin), um Hebreu de Hebreus: quanto à lei fui fariseu; quanto ao zelo, persegui a Igreja” (Filipenses 3:4-6).
Toda essa posição representada, vantagem, influencia, reputação – algo neste mundo que fornece uma base de honra e sucesso, um nome e lugar dentre os homens. Ele tinha trocado isso por tudo isto que temos falado....e muito mais.
Como Paulo se sente acerca disto? Veja os extremos na vida deste homem: o extremo, por um lado, de honra e glória terrenal – aquilo do que os homens se orgulham, aquilo que do ponto de vista deste mundo era de sua vantagem. Dava para muita coisa. Por outro lado está o extremo oposto. Pense nisso! Um homem assim, estando entre os homens num lugar de conspícua honra e privilegio e influência, mesmo assim açoitado com varas, espancado com um chicote, jogado na prisão, apedrejado, e todo o resto. Como se sente ele da troca? Qual é sua atitude para com tudo? No fim de uma vida assim, como ele o resume?
“Alegrai-vos no Senhor” ...alegrai-vos.... alegrai-vos! Você diz: não existe nada trás essas palavras! Estas palavras não são vazias. Coloque uma história, uma experiência como essa, trás uma declaração, e a declaração significará muito. É assombroso.
Se ficássemos para meditar sobre isso, estaria calculado para nos levar aos joelhos em vergonha. Não há queixas, não há descontentamento aqui, não dizendo: “tenho desistido de tudo (e é um grande “tudo”) por Cristo, e veja ao que Ele me levou – veja o que tenho! Não! Não há nenhum som ou sinal de queixa sobre isso tudo.
Se ele diz, “entristecidos” (e ele está), ele imediatamente junta isso com: “mas sempre nos alegrando”. Se ele diz, “não tendo nada”, imediatamente ele diz, “possuindo todas as coisas”. Se ele diz “como pobre”, ele instantaneamente diz, “e contudo fazendo a muitos ricos”. Sua atitude para com todo o assunto não é de reclamação, porém do oposto – se gloriando, alegrando, ordenando outros a se alegrarem. Sozinho, abandonado, inimigos por todo redor, sua obra da vida sendo despedaçada por esses inimigos, suspeito universalmente. Todos os amigos deixando ele, sozinho em prisão – se alegrando, gloriando, exultando.
Isto vai muito além. Mas qual é a explicação? É a excelência do conhecimento de Cristo Jesus. O conhecimento de Cristo – conhecer Cristo como Ele pode ser conhecido; conhecer Cristo assim como Ele está aberto para ser conhecido; conhecer Cristo como Ele deseja se dar a conhecer; essa é a explicação... e Paulo tinha em grande medida entrado nisso.
Ele está dizendo isto, em outras palavras: é possível conhecer Cristo de tal forma que, embora para começar você perca tudo neste mundo que é precioso aos olhos dos homens, você terá algo infinitamente mais; e ir em frente com isso, é possível conhecer assim a Cristo que não importem quantas sejam as formas de sofrimento, quão profundo seja o sofrimento, quão inexplicáveis sejam algumas experiências, quão contínuas – direito até o fim – sejam as adversidades, contudo o conhecimento de Cristo é algo que mantém você acima e bem acima... de modo que você não é submergido. Embora estes fortes mares de pesar e sofrimento e adversidade possam lançar seu peso contra você, elas quebrarão; elas não quebrarão você... elas quebram em você. É possível conhecer Cristo dessa forma. É isso o que ele está dizendo, se nós entendemos ele corretamente.
A maioria de nós terá que confessar que muitas vezes o problema tem nos abalado; o sofrimento tem trazido nuvens de questionamentos e dúvidas em nossos corações; não temos feito frente assim. Mas nosso objetivo não é apenas ver Paulo fazendo isto, nem é nos medir numa desvantagem ao lado de Paulo; mas é ver que o Cristo de Paulo é nosso Cristo, e o que foi possível para Paulo é possível para nós... que Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e para sempre; Ele é um Cristo que é conhecível exatamente da mesma forma em que Paulo conheceu Ele.
Qual é o caminho para este conhecimento? Por um lado, existe nosso lado, e penso que a resposta é: “Para mim o viver é Cristo”. Como você conhecerá Cristo em plenitude? Como você conhecerá Ele da forma em que Ele pode ser conhecido: somente nesta base, que para você o viver é Cristo. O que isso significa?
Paulo foi para Arábia por três anos depois de ter se encontrado com Cristo na estrada de Damasco, e durante esses três anos ele teve um amplo tempo em solidão para encarar as implicações de seu novo relacionamento. Para ele ficou perfeitamente claro no curso de três anos solitário que lhe iria custar tudo. Todos estes acontecimentos foram encarados naquele então. Para ele se tornou simplesmente e em última análise um assunto de vida e morte. Significou isto: Tudo que tenho nesta terra – neste mundo – tem que ser detido para o Senhor, para Cristo; e se, no curso do meu relacionamento com Ele, todas ou qualquer uma destas coisas têm que ir, então resolverei isso agora. Se significa sofrimento, perseguição, e morte mesma, vou lá agora – eu o aceito tudo – de modo que para mim o viver não será casa, família, amigos, reputação, aceitação, influência; mas se significa nada destas coisas de modo algum – antes, a perda de todas as coisas – então o próprio motivo de eu estar neste mundo não será nenhuma destas coisas, mas somente Cristo... Cristo, a dinâmica da vida!
Em outras palavras Paulo diria: “Para mim estar nesta terra simplesmente significa Cristo! Aceitarei com gratidão o que Ele der! Se Ele me dar algo ou permite que retenha alguma coisa aqui, serei grato por isso; mas se tudo tem que ir, então não fará nenhuma diferença. Cristo – e somente Cristo – é o objetivo, a dinâmica, o motivo do meu ser nesta terra!”
Quando tenhamos resolvido as coisas dessa forma – quando é realmente trazido até essa conclusão da questão – que para nós o viver é Cristo, então o Senhor terá um caminho muito aberto para se tornar tudo para nós. Não é acaso verdade no nosso caso que muitas vezes nosso relacionamento com o Senhor, nossa vida cristã – sermos cristãos e ser postos em dificuldade, resultando em sofrimento nos tem levado a ficar parados ou a retirarmos por um minuto e dizer: “Ah, bem, não esperava que iria significar isto! Não sei se estou preparado para isso!” Algo assim tem muitas vezes acontecido conosco, não é? Sofrer a perda de todas as coisas é uma linguagem fácil, mas realmente um homem que unicamente tem colocado tudo de uma vez por todas nos balanços pode conhecer Cristo em plenitude – plenitude total – e dizer: “Eu sofro a perda de todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo!”
Significa apenas isto: “a totalidade de Cristo para nós requere nossa totalidade para Ele. Se estamos assegurando qualquer coisa ao invés de Cristo – à parte de Cristo, contrário a Cristo – estamos limitando nosso próprio conhecimento de Cristo.
Esse é um lado – nosso lado: “Para mim o viver é Cristo”. Temos falhado – temos nos quebrado neste assunto. E mesmo assim nossos corações estão curvados e fixados numa coisa ( confio que eles estão)... que quando temos passado este caminho, o qual passamos somente uma vez, o veredito eterno será que termos vivido, foi Cristo. É algo solene trazer à vista: Qual vai ser o efeito de eu ter passado este caminho? Para o que tenho vivido? Que representará o fim da minha vida quanto ao resultado dos meus anos? O que a eternidade mostrará – e o que o tempo mostrará – quanto ao valor de eu ter ido neste caminho?
Quando nós estamos totalmente para o Senhor assim, dá ao Senhor a oportunidade do outro lado – o lado divino: “Os olhos do seu entendimento sendo iluminados... para conhecer o amor de Cristo que excede todo entendimento... que Deus nos dê um espírito de sabedoria e revelação no conhecimento Dele”.
Tenho certeza de que se o lado humano está correto e existe totalidade para o Senhor... o lado divino dará tudo certo. Mas entre dois ou três virá um teste – chegará um ponto em que toda a questão da vida é focada sobre uma completa decisão: Vou ficar neste mundo com qualquer interesse próprio quer que seja, ou vai ser, sem importar o que custar e seja o caminho que for, só Cristo? Isso é muitas vezes encaminhado num teste prático – não num teste mental – e não se o Senhor nos pede para dizer algo... mas fazê-lo. Tudo quanto ao nosso conhecimento de Cristo em plenitude pende sobre um ato – às vezes um ato que nos compromete.
Podemos reconhecer as implicações: ostracismo, perseguição, difamação, deturpação, suspeita, perda de influência, perda de reputação, perda de lugar – lançado fora numa maneira na qual comparativamente poucos irão conosco e na qual seremos mal entendidos. Esse pode ser o caminho do desafio do Senhor... e do Seus mais altos interesses. A pergunta é: “Para mim o viver é Cristo?” se é... e colocamos isso no ato requerido... conheceremos a excelência de Cristo e teremos o mais excelente conhecimento de Cristo – Cristo sobressaindo. Que seja assim como todos nós.
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